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Compulsão contida

Momentos antes da conversa agradável, admirei a postura, profissionalismo e genuinidade. Ele estará no auge da idade adulta mas ainda revela inocência de menino na face, cora com facilidade e tem um sorriso tímido. Possivelmente o que me chamou a atenção foi a agilidade com que se move na sala cheia de clientes, muito mais do s que eu esperava, para um jantar de sexta-feira, familiar, de fuga à rotina.

Chegada a nossa vez, iniciamos uma conversa para aligeirar o atendimento automatizado. Alimentamos empatia. Afinal, também nós decidimos fugir da sobrecarga profissional e ali fomos para agravar o trabalho de outros. 

A cada visita á nossa mesa sorria com mais facilidade e continuava o tema intervalado pelo atendimento contínuo rigoroso. A determinada altura a imagem do menino, saído da escola com boas notas e responsável é dissipada. Confissões de alguém próximo admitindo o pé pesado que lhe trazem dissabores em forma de multas. Nessa altura o jovem de tez pálida e rosada admite também a obsessão que controla desde cedo. Confessa que pela necessidade de adrenalina e a incapacidade de a controlar fez que em tempos tomasse uma importante decisão: nunca poderia experimentar uma mota, seria a sua morte! 

Agora captou todo o meu fascínio. Talvez por empatia, afina também eu vivo enrolada na minha capa, escondendo quem sou para quem me observa. Talvez o meu olhar me denunciasse porque, nesta altura, já eu e este menino rebelde trocavamos olhares intensos. 

Nesta altura da conversa, relembro uma máxima do meu ensino de infância : ter medo é do que gostamos! O que não gostamos já provamos. Sempre compreendi o ensino transmitido mas agora fez muito mais sentido! 

Antes não fantasiaria com um vulgar garçom, tímido e feições burguêsas. Agora, de repente, saboreio o jantar mas perdida num autêntico festim mental. 

Surpreendentemente, iria com este singelo jovem numa viagem a duas rodas, excitados de cabelo ao vento. Entretanto, seria o travão da adrenalina em pleno vale verdejante, num final de tarde, para depois o deixar extenuado em seretonina!

Estes pensamentos são muito recentes e novos! Só depois de conhecer outras sensações e aventuras tão ou mais excitantes do que a velocidade de estrada, dou por mim a desejar repeti-las. Sinto necessidade dos momentos elevados em euforia e líbido.  

Mas tal como este rapaz tenho de controlar estes desejos, a compulsão é moderada até ao momento ideal. Momentos estes que nos dão o ânimo de viver e anulam a monotonia dos dias automatizados. 

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