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Uma voyeur de um romance

Hoje não quero ir ver o mar. Preciso de um almoço mais sereno. A época alta começou e à beira mar tem confusão a mais para um descanso merecido de sexta-feira. Há quem me inveje por poder relaxar todos os dias com o som das ondas, a brisa marítima, mas nesta altura do ano este frenesim incomoda mais do que beneficia.

Vou até ao parque. Trouxe um almoço leve e preciso relaxar ao fim de uma semana exaustiva. Enquanto espero que a viatura da frente entre no estacionamento começo por delinear o que vou fazer para aproveitar esta hora e meia.

Estaciono e recolho tudo o que preciso para a minha mochila: um livro, o telemóvel e o almoço. Ao fechar a porta do carro sou surpreendida pelo casal do carro que veio à minha frente. Estão entre beijos fervorosos e até eu ruborizo por ter sido apanhada numa pausa entre línguas. Ele de olhar cristalino imediatamente foge do meu olhar e cora, mas ela, tem um olhar de mel, quente e observa-me a afastar. Ambos comentam algo e eu desvalorizo, ajo como se nada tivesse acontecido.

Faço uma caminhada de passeio pelo parque. Inspiro o ar de verão com mistura de maresia e verduras. Esta um sol que não queima mas aquece pelos 26ºC em pleno auge. Como já é normal nestas alturas há mais movimento de pessoas. Escolhem o mesmo espaço para um descanso da pele nas horas impróprias de sol e também há passageiros estrangeiros que tanto apreciam a nossa possibilidade (portuguesa) de usufruir de mar e campo em tão pouca distância.

Sento do lado mais oeste, depois da travessia do pequeno riacho. Aqui consigo a calmaria que procuro e observo toda a paisagem.
Aproxima-se o casal de a pouco. Passeiam pelo percurso pedonal e, apesar da aparente idade adulta, parecem mais dois teenagers. Estão apaixonados. Abraçam-se e beijam-se intensamente como não se vissem à imenso tempo mas, no entanto, denota-se uma cumplicidade de quem se conhece muito bem. O percurso vai ser longo pois distraiem-se mais um no outro, do que em caminhar. Fazem-me sorrir por cada paragem, a cada três passos, enquanto almoço a minha salada de massa e queijo fresco.

Tento me abstrair dos amantes com outros transeuntes. Está difícil! Eles não me vêm mas estão quase em frente a mim do outro lado do rio . Ele é alto, discreto com umas calças de ganga e t-shirt azul que condiz com o olhar que ainda me recordo. Ela está elegante com um vestido lilás que lhe assenta nas curvas e as sandálias a condizer de salto complementam o bom gosto.

Refugiam-se no miradouro romano e acham que ninguém os vê porque, nesse exacto momento, transformam-se para demonstrar a fome que têm um do outro. Colam as bocas um no outro e apertam-se e acariciam-se como se estivessem a saciar-se. O almoço deles é este! Um misto de doçura e agressividade de toques. As quatro mãos navegam pelos corpos. Ela é arisca e desaperta-lhe as calças. Ele responde puxando o decote do vestido e abocanhando um seio. Toda a indecência me está a aquecer e inquietar mas nem me movo, estou maravilhada com o romance.
Ela senta no banco de pedra e fica ao nível do sexo a descoberto agora. Ela abocanha-o docemente enquanto ele apanha o cabelo dela de forma suave. Ele olha-a e geme. Retiro os auscultadores e desanimo. Não os ouço. Apenas imagino os gemidos pela expressão dele, pela contorção do seu corpo. Ele esta a deliciar-se com a mestria dela mas bruscamente puxa-a para si. Mais um beijo eloquente, agarra-a pelas nádegas e eleva uma perna que ela pousa de forma sensual o tacão no beiral da pedra secular. Ele baixa-se e só de imaginar o que a sua língua lhe faz contraio também o meu interior.

Ela segura-lhe na cabeça com vigor. Está enlouquecida e diz-lhe algo. Os movimentos bruscos continuam. Ele eleva-se encosta-a à parede, levanta-lhe o vestido e eu surpreendo-me. A roliça elegante está sem roupa interior. Pergunto-me se este encontro terá sido premeditado. Ele solta de novo o seu tesão das calças e toma-a sua enquanto lhe mordisca e sussurra algo ao ouvido. Estou envolvida com tamanho erotismo e sensualidade. Definitivamente eles estão entusiasmados!

Tanta paixão é interrompida. Um casal de atletas correm por perto e eles recomponhem-se. Estão ternos de novo e sorridentes. Contagiam-me e sorrio também por partilhar secretamente esta aventura.

Constatam o espaço livre olhando pela paisagem. Vêem que um grupo de jovens está num piquenique longe e ele atreve-se a colocar-lhe as mãos de novo dentro do vestido. Ela cola-se mais a ele enquanto o empurra contra o banco de pedra, obrigando-o a sentar. Ela senta no seu colo. Esta mulher é fogo!

Monta-o primeiro, lentamente, até se tornar intensa e o forçar a segurá-la. Ele impede-a de se mover, abraçando-a contra si pela cintura. Trocam um beijo quente e um olhar mais intenso ainda. Colam testa com testa, sorriem e falam algo que para minha desilusão não percebo. Ela sai do colo dele. Os movimentos bruscos ainda continuam. Ele faz com que ela suba no banco e levanta-lhe o vestido de novo. Acaricia toda a sua anca desnudada. Ela coloca-se de cócoras e ele devora-a com estocadas fortes e submetendo-a a segurar-se nos braços dele.

Com o barulho de uma família por perto são obrigados a parar de novo. Apetece-me incentivar – estão livres. Eles certificam-se, mais uma vez, do espaço livre. Ela olha-o lânguidamente e baixa-se tornando a saboreá-lo até que ele se contorça e a segure com força nos ombros. Ela rapidamente se atira a um beijo demorado. Estou atónita com tanta libertinagem do momento. A partilha dos dois humedece-me e altera-me a respiração. Ele absorve cada gota remanescente no canto do lábio dela e abraçam-se.
Ele olha o relógio, trocam uns sorrisos e palavras e afastam-se. Repito e solto um impropério ao ver as horas. Definitivamente relaxei demais e distrai-me. Fui voyeur por hora e meia e agora está na hora de voltar a mais uma tarde de trabalho!

Imagens cedidas por X-art.com

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