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Regresso a borboletear

Finda mais um completo fim de semana. Estamos em meados de Outubro, um calor que ainda justifica a visita ao mar e muitos focos de incêndio pelo país nos quais tento não concentrar as atenções. Egoistamente prefiro minorar a revolta que gera com a ignorância. Entretanto a rádio dificulta esta tarefa.
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A brisa evidencia a confusão do tempo: mistura o cheiro do Verão com a humidade de Outono, com ela surge alguma nostalgia. Perco-me em pensamentos, lembranças e reflexões ao som da musica. Paradoxalmente atenta, relembro a ultima leitura: O Cérebro – À Descoberta de Quem Somos. Divago no estudo do escritor, neurocientista - David Eaglemen. Não me lembro de alguma vez ter sentido o efeito do tempo parado. No entanto tenho imensas memórias e cada vez que as recordo revivo-as com mais ou menos detalhe, tendo algumas vezes a sensação de que o tempo na altura passou rapidamente e na memoria uma eternidade pelos detalhes evocados. Algo céptica com o estudo do senhor, que na introdução captou toda a minha empatia e interesse em conhecer toda a complexa obra. Ao som da musica pop relembro o conceito matrix e como também nessa altura questionei se não seria toda a realidade uma ficção constante. Estou de corpo e mente em viagem, de regresso a casa, esta é das poucas vezes em que assumo adorar estas viagens.
A melodia entretanto, é interrompida por mais uma actualização de noticias e alguma conversa dos locutores de rádio. Tema de final de tarde de fim de semana para relaxar. Quando por breves instantes percebo o conteúdo da mensagem, fico incrédula. Apontam os feriados do próximo ano e incentivam a um planeamento antecipado de férias, quando este ano ainda restam três meses! Não entendo esta pressa de viver! O consumismo não é só materialista e incomoda-me. Mudo novamente  de estação, forma de demonstrar a discordância com este modo de vida, supérfluo. Quero usufruir todas as vivências recentes.  

Aprecio a paisagem do por do sol, o céu está efeminado, pintado em tons rosa e vermelhos. A cor em simbiose com a temperatura elevada, transporta-me para a primeira festa de tema: o vermelho. Foi uma noite repleta de alegria. Conheci as mãos do doce Pedro e o sorriso contagiante de Margarida. Com quem terminamos no quarto em dose tripla de casais, algo nunca fantasiado. Os beijos e caricias de Pedro tornaram-se no meu presente da noite, em cumplicidade a seis. O menino tímido depois de domada a inibição revelou ser um autêntico sedutor. Na mesma festa onde conheci Rita, a mulher-menina rebelde e de olhar e energia selváticos, e António, o sugar daddy, autêntico galã que me rouba um beijo, digno de uma cena em filme dos anos 50.
Glenn Ford e Rita Hayworth
Consciencializo o sorriso que me invade a face. Muitas vezes sorrio involuntariamente ensimesmada na anamnese

Prefiro viver assim, intensamente e reviver no quotidiano, monótono, quebrado pelas lembranças.  E sem muitos planos, sem muitas expectativas sou presenteada com boas pessoas que não imaginam nem um pouco do quanto me visitam no dia a dia. 

O azul camuflado no céu, pelo algodão doce das nuvens, lembra o olhar de Leo no jantar do reencontro. Sorrio novamente ao lembrar uma troca de palavras desafiadoras. Foi num aniversário pobre de convívio e rico de emoção que senti o reconfortante abraço de Dora. Sem nada pronunciáramos e tudo sentirmos.  Quase me assalta uma gargalhada ao lembrar a tertúlia sobre aventuras, libertinagem e sexualidade com um exótico senhor, junto ao balcão do bar. Nesse momento em que se manifestavam opiniões sobre sexo anal, uma mão tão conhecida atreve-se debaixo do meu vestido, sem que ninguém se apercebesse, instigando maldades.

Questiono se já alguém terá analisado este meu sorriso inoportuno, quando me deixo fascinar nas boas memórias, nas aventuras cúmplices. Só o meu amante de vida vai conhecendo estes pensamentos, estes momentos só meus. Possivelmente até saberá quando recordo o Don Juan da pista e a sua eterna namorada de vida.  O dono do beijo mais arrebatador roubado em pleno bar. Pessoas donas do meu tempo jovial e desprendido de raciocínio.

Regressando ao momento, deparo-me no balanço do ano:  Sinto o auge da vida em plena fase adulta! O ano tem trazido algumas tragédias, dissabores e preocupações mas de alguma forma aligeiram os dias quando borboleteio entre o passado e presente.

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Uma música pausa a lucidez novamente. Amento os dançantes que me acompanharam em mais do que uma noite: Nanda a minha doce amiga, com ela a dança é muito mais do que ritmo. É sensualidade, é a volúpia nas curvas e a cupidez nas mãos. O delírio dos corpos facilmente se confunde numa melodia quente. Entretanto, recentemente conheci um bailarino desconcertante. Dominou-me na pista como ninguém. Primeira dança e só pelo segurar da minha anca, sei o dom que me cativa. Arrebata-me de desejo e as minhas mãos não o largam. Ultrapasso o meu limite de bom comportamento, invadindo-lhe as calças, sentindo e demonstrando o desejo de ambos. Sem duvida, temos de o consumar um dia....ou talvez não, e apenas seja mais um inesquecível momento a repetir! 

Chegámos ao destino. De sorriso no rosto, concluo: foi um bom Verão e mais um bom fim de semana. Talvez desta vez seja a derradeira despedida do sol.
Tal como Eagleman afirma somos moldados pelas conversas, experiências que partilhamos criando sinapses cerebrais cada vez mais fortes na fase adulta, desenvolvendo a nossa personalidade. Estas personagens e muitas outras moldam-me e fazem parte de quem sou. Enquanto criança temos necessidade de eliminar sinapses para solidificar conceitos, ideias e pensamentos...agora é só acrescentar aos alicerces.

Para os curiosos:
http://www.bbc.com/portuguese/geral-40709560

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